terça-feira, 1 de junho de 2010

Esclarecimentos

Em decorrência de mal-entendidos sobre a natureza deste blog e sobre os participantes dele, sentimos a necessidade de exercer nosso dever de cidadãos que prezam pela democracia, igualdade e que antes de tudo, reconhecem que a liberdade de expressão em todas as suas formas é preferível à censura.

Quando nos deparamos com esses mal-entendidos, nosso primeiro pensamento foi mudar o blog, para que não houvesse problemas. Percebemos, contudo, que isso seria uma forma de censura que nós mesmos estaríamos aplicando. Assim, percebemos depois, que ela está inserida de forma discreta em muitos comportamentos nossos. Cada vez que nós deixamos de fazer algo ou expressar algum pensamento, simplesmente porque a sociedade não irá aceitar, estamos automaticamente nos censurando.

Sem dúvida, o perigo de se dar voz à população, em geral - o que é enfatizado com a inclusão digital - é que podem sim surgir idéias e comportamentos carregados de filosofias superficiais. Isso pode caminhar inclusive, para o surgimento de idéias preconceituosas e contaminar grupos manipuláveis, conduzindo-os a comportamentos que não cabem na sociedade na qual estamos inseridos, a qual declara incansavelmente a importância de se respeitar e conceder direitos iguais a todos os cidadãos.

A censura, como forma de se garantir que as expressões de idéias e pensamentos na sociedade sejam adequadas às normas de sobrevivência da própria sociedade, é visivelmente o meio mais ineficiente de se garantir ordem. Além disso, a censura é a forma mais cruel de genocídio, pois ela mata as pessoas da pior forma: em vida. Ela retira do homem essencialmente o que lhe torna vivo. Ela faz com que cidadãos tornem-se ex-cidadãos. Ela lhes concede a triste realidade de meros executores de funções já planejadas, tais como abelhas operárias.

A única forma de uma sociedade evoluir e vencer pensamentos e comportamentos preconceituosos é enfrentando o preconceito. Ela deve permitir a manifestação das idéias, ainda que consideradas antiquadas, para que assim, consiga permitir que a própria sociedade, que hoje tem o poder da informação, reflita sobre seu passado e perceba o que deve ser mudado. Não porque têm o dever de mudar, mas porque entenderam que a mudança objetivará o desenvolvimento dela própria. Essa é a formação da consciência. Caso ela seja feita por meio de imposições, o preconceito sempre existirá por trás das ações, senão como o preconceito efetivo, então como o preconceito de ter preconceito. Assim, a sociedade agirá de forma correta e mecânica, mas sem consciência.

Assim, diante da hipótese de mudar o tema do blog por receio de gerar polêmicas e mal-entendidos, enfatizamos ainda mais a necessidade de não mudar. Nós não iremos censurar nenhuma forma de expressão. Acreditamos, entretanto, que principalmente por sabermos que muitas pessoas esclarecidas contribuirão com este blog, então essa é uma grande oportunidade para discutirmos abertamente esse assunto. Temos a convicção de que esses diálogos resultarão na ampliação da consciência das pessoas que contribuirão de alguma forma com este blog.

Assim, destacamos que o blog continuará existindo como uma sátira de um personagem que criamos. Contudo, destacamos que o blog não existirá apenas do humor, mas das discussões que ele irá gerar. Acreditamos que o humor consegue desvencilhar os indivíduos da preocupação pelo termo “politicamente correto”. Assim, as pessoas tornam-se mais livres para pensar sobre assuntos que hoje são aceitos e não pensados. Isso certamente contribuirá para a ampliação da nossa consciência e originará bons resultados. Assim, nós, participantes do Blog El Último Cabrón aguardamos encarecidamente pela contribuição de todos para os diálogos que, acreditamos que serão do interesse de todos.

“Posso não concordar com nenhuma palavra do que você diz. Mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la.”

(Voltaire)

3 comentários:

  1. Galera, a professora Andrea Leite Rodrigues não conseguiu postar seu comentário aqui no blog, então estou postando o comentário que ela nos pediu por e-mail, de sua autoria:

    É preciso não confundir críticas com censura. Em nenhum momento este blog sofreu censura. Ao disponibilizar conteúdo deve-se estar preparado para receber reações adversas. Não é aceitável defender-se alegando que o conteúdo é "apenas" polêmico e colocar-se em postura de vítima, alegando que sofreu censura. Moderar discussões com conteúdos polêmicos implica na necessidade de sofrer as conseqüências das interpretações e encará-las com a mesma coragem com que se disponibilizou o mesmo conteúdo. Ao colocar num blog fotos com imagens e frases claramente machistas e sexistas, os moderadores deveriam estar preparados para as reações, ao invés de simplesmente alegar que “foram forçados” (me mostra quem foi que forçou que eu mesma vou punir) ou que é “meramente humorístico”. Nos tempos que correm um dos pontos mais importantes a se discutir são as conseqüências da liberdade de expressão. Onde está a responsabilidade social? Onde estão as acaloradas discussões sobre inclusão e respeito, quando tudo é “apenas para rir”? Qual a graça quando o filho mais velho do príncipe Charles vai a uma festa a fantasia vestido com uniforme de campo de concentração? Talvez o que o grupo chama de apenas “polêmico” ou “só para rir” esteja, para mim, bem perto do que Hanna Arendt chamou de banalização da violência. Esta sim, é uma discussão importante.

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  2. Estou saindo agora, mas amanhã tentarei esclarecer algumas coisas. Peço a compreensão de todos, devemos respeitar as vésperas de feriado.

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  3. Antes de tudo gostaria de agradecer pela sua participação. O objetivo principal desse blog era desde o início proporcionar discussões de alto nível e com poder de nos fazer repensar nossos pensamentos e comportamentos. Quando eu falei de censura no meu post, reafirmo que essa censura era de nossa própria autoria. Nós consideramos retirar nossos comentários de humor machista por termos receio do impacto que isso traria; eu deixei clara essa idéia no segundo parágrafo do meu texto.
    O que mais queremos, não é causar conflitos, mas sim promover o conhecimento; a ampliação da consciência por meio dos diálogos. Contudo, sabemos que essa não é uma tarefa fácil. Sabíamos desde o início que possivelmente nos depararíamos com eventuais conflitos de idéias. Assim, declaramos que conseguimos progressos com esse blog. Vimos nesses conflitos, a chance de alinhar nossos feitos com o objetivo do trabalho: o conhecimento.
    Declaramos que não iremos nos eximir de críticas e as aceitamos sim. Estamos prontos para qualquer tipo de debate. Inclusive repito que incentivamos a participação de TODOS no blog. Teremos o imenso prazer de mediar discussões e lidar com reações adversas. Portanto, se tiverem algum comentário ou crítica sobre o blog, pedimos que o fizessem no próprio blog, para garantir transparência.
    Percebi hoje uma grande contradição em tudo isso. Esse blog já causou algum impacto referente ao seu humor dito “machista e sexista”, mesmo sabendo que seu público é originário de um país onde as mulheres recebem até 30% menos que os homens, ocupando cargos equivalentes. Esse preconceito ainda consegue transitar de forma discreta na nossa sociedade. Minha reflexão é: será que o medo que existe hoje de ser acusado de preconceituoso - visto que aparentemente nossa sociedade já aprendeu que isso não é correto- será que esse medo não contribui para que as práticas machistas sejam muito mais perspicazes e disfarçadas; isentas, portanto, de questionamento? Claramente, nosso país é formado por Homens Tradicionais. Acredito que essa discriminação bem elaborada me lembra muito mais o conceito de banalização da violência. Será que é possível entender essa lógica social a partir do entendimento da lógica de “guerra dos sexos”?

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